Sérgio Conceição e a Metodologia DISC

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DISC NO DESPORTO Metodologia DISC

Sérgio Conceição e a Metodologia DISC

Na última edição da Revista Human, Sérgio Almeida fez uma análise comportamental do treinador do Futebol Clube do Porto, Sérgio Conceição, à luz da metodologia DISC e de descobertas recentes no mundo das neurociências.
Esta metodologia foi criada com base na análise de padrões comportamentais e permite-nos compreender como respondemos perante diversas circunstâncias, nomeadamente: problemas, desafios, relacionamentos, influências, mudanças, ritmos, regras e procedimentos.
FC Porto’s head coach Sergio Conceicao reacts during their Portuguese First League match held at Chaves Stadium in Chaves, north of Portugal, 11 February 2018. MANUEL ARAÚJO/LUSA

Em 2018, Sérgio Conceição provou que é um líder D. Quando há 90 anos o psicólogo William Moulton Marston criou a metodologia DISC, com o seu livro «Emotions of Normal People» (1928), estaria longe de imaginar que o Futebol Clube do Porto iria ganhar este ano o campeonato português de futebol.

A metodologias DISC permite definir quatro comportamentos comuns, estando presente em qualquer ser humano em níveis diferentes de pessoa para pessoa. DISC é o acrónimo de domínio (como respondemos perante problemas e desafios), interação (como nos relacionamos e influenciamos os outros), serenidade (como respondemos às mudanças e ao ritmo) e cumprimento (como respondemos perante as regras e os procedimentos). Ou no original em inglês, ‘dominance’, ‘influence’, ‘steadiness’ e ‘conscientiousness’.

Tempestade perfeita

A escolha de Sérgio Conceição para treinador do Futebol Clube do Porto provou ser a tempestade perfeita, aquela de que o clube precisava para encontrar o caminho das vitórias. Para lá da pessoa (os seus valores, a sua história no clube, etc), é interessante percebermos através da ciência como o perfil do treinador encaixou naquilo de que o clube necessitava: alguém que conseguisse unir uma equipa de retalhos, motivar uma massa de adeptos descrentes, demonstrando uma confiança inabalável em si próprio e no seu ‘staff’. Esse perfil existia, e Jorge Nuno Pinto da Costa, o presidente do clube, mostrou que estava atento quando o identificou: Sérgio, o líder D.
Como o próprio titulo deste artigo sugere, vamos focar-nos então na componente dominante em Sérgio Conceição: o fator D.

O perfil do líder

Sérgio Conceição tem as principais características de um perfil D: gosta de desafios, assume riscos, procura inovar constantemente, é persistente nos objetivos que persegue e muito orientado para resultados.Se olharmos para a sua chegada ao Futebol Clube do Porto, começou por assumir o desafio «vamos ser campeões este ano»; aliás, a sua carreira está cheia de declarações arriscadas, muitas das vezes assumindo conflitos e lutas dentro e fora de campo, com um temperamento considerado explosivo pelos seus antigos colegas de equipa. Mas se existe um traço de perfil D em Sérgio Conceição, esse vem ao de cima na forma corajosa, competitiva e decidida como comunica com os jogadores, com o ‘staff ’ e com os ‘media’.
Sobre a comunicação do líder D, o método DISC explica-nos que sendo o de alguém que vive intensamente os resultados, muitas vezes tem o coração na boca. A sua voz é habitualmente forte, clara e transmite segurança, o seu olhar é focado, gosta de olhar olhos nos olhos quando comunica, tem um ritmo acelerado e o volume elevado. Esta descrição faz-nos lembrar alguém, certo? Sérgio Conceição, com certeza.

A roda com a equipa no final dos jogos

O treinador do Futebol Clube do Porto criou um novo hábito no final de cada jogo: quer ganhe ou perca, a equipa reúne-se no centro do relvado numa roda, os jogadores olham-se nos olhos e soltam um grito de união. Este ritual é muito bem aceite pelo nosso cérebro social; aliás, é fundamental para o sentimento de pertença.O número de estruturas cerebrais, que participam no processamento das informações sociais, bem como a complexidade da conexão dessas áreas, é surpreendente. Todos nós temos a capacidade de nos colocarmos no lugar do outro e entender os seus sentimentos e as suas intenções (aquilo a que chamamos empatia), e para isso contamos com os «neurónios espelho», responsáveis pela ativação, entre outros, do sistema límbico, que é responsável pelas emoções.Após as derrotas, Sérgio Conceição juntou sempre a equipa, colocando todos os jogadores em comunidade, o que permite reduzir a dor individual e colocar toda a equipa no mesmo comprimento de onda, e também ultrapassar logo ali no campo a desilusão da derrota e acelerar o processo de libertação de dopamina (fundamental para a motivação) e focar os jogadores no próximo desafio.Um exemplo que nos permite entender a importância do grupo no impacto da coesão social no cérebro e na diminuição da dor é dado pelos rituais muito comuns nas regiões africanas no tratamento das doenças, onde a aldeia inteira se reúne à volta do doente para assistir à sua cura. Nas vitórias os efeitos desta ação são também muito importantes. Imagine os jogadores que estiveram em campo a celebrar após o último apito do arbitro e todos os outros a irem para o balneário… Como ficaria o grupo? Aqui também este ritual é fundamental para unir aqueles jogadores que jogaram e aqueles que ficaram no banco, criando o verdadeiro conceito de «somos um, somos Porto».Integrar e celebrar em equipa num «mega abraço» conjunto permite aumentar os níveis da oxitocina, responsável pelo bem-estar e pela diminuição dos níveis de ‘stress’. Com tudo isto, o treinador do Futebol Clube do Porto conseguiu que o grupo saísse reforçado e que a motivação de todos ficasse em alta, bem como a sua felicidade individual.

Conclusão

Sérgio Conceição é um líder e William Moulton Marston não teria dúvidas se tivesse oportunidade de o conhecer, nem as neurociências têm dificuldade em prová-lo.
E assim são os líderes. Com todas as suas imperfeições e todas as suas virtudes, conseguem criar equipas quando acreditam num propósito maior do que eles próprios. Podemos afirmar sem qualquer dúvida que Sérgio Conceição acreditou. E conseguiu.
In Revista «human» – Edição Julho/Agosto 18